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Reflexos da doença na obra feijosiana evocados em sessão de tributo

24 Novembro 2017

A quarta conferência de homenagem a António Feijó – iniciativa inserida no quadro das comemorações do primeiro centenário da morte do poeta-diplomata (1917-2017) -, decorreu na passada sexta-feira, 17 de novembro, no Auditório da Biblioteca Municipal de Ponte de Lima. Sob o título “Malefícios da doença na poética de António Feijó”, a sessão orientada pelo Dr. João Pimenta centrou-se na análise epistolográfica dos volumes de “Cartas a Luís de Magalhães”, obra que, organizada por Rui Feijó em 2004, reúne centenas de missivas onde é possível perceber as várias patologias que foram afetando o autor de “Sol de Inverno” em diferentes estágios da vida, desde a época em Coimbra até ao derradeiro período em Estocolmo.

João Pimenta revisitou os apontamentos de Feijó acerca dos diversos percalços clínicos que, apesar de parcamente desenvolvidos, permitem traçar uma linha cronológica dos seus padecimentos e sublinhou o grau de influência dos males descritos no seu rendimento criativo e nas suas escolhas temáticas. Detendo-se especialmente numa infeção sifilítica que o poeta disfarçava com o recurso a eufemismos, o conferencista reproduziu alguns excertos de cartas remetidas ao fraterno amigo, Luís de Magalhães, reveladores de queixas e de tratamentos causadores de longos ciclos de dor e de consequente suspensão da atividade artística, não esquecendo a fundamental alusão à gota, afeção articular responsável por prolongadas fases de imobilidade e de profunda melancolia que prostraram o escritor ponte-limense.

A juntar ao quadro de complexidade clínica, lembrou o Dr. João Pimenta a angústia provocada pelo estado debilitado e final de Mercedes Castro Feijó – a adorada esposa -, a nostalgia decorrente do exílio em terras nórdicas, o perfeccionismo que lhe aumentava a insatisfação e a ansiedade, e a ciclotimia que o atirava para períodos de euforia alternados com ciclos de depressão – circunstâncias naturalmente refletidas na produção literária do autor. Mas se é certo que o derradeiro tempo de Feijó - desaparecido prematuramente na sequência provável de um acidente isquémico cardíaco -, foi o mais doloroso do ponto de vista físico e mental, sustentou o conferencista que também revelou o melhor da sua poética – perspetiva literária consensualmente partilhada pela crítica coeva.

À palestra do Dr. João Pimenta, que contou com a presença do Dr. Paulo Barreiro de Sousa, Vereador com o Pelouro da Educação do Município de Ponte de Lima, seguir-se-á "Ainda os dois «minhotos, diplomatas e amigos»: (mais correspondência entre António Feijó e o 2.º Visconde de Pindela): da guerrilha portuguesa e da Europa da Grande Guerra", conferência a cargo do Dr. João Afonso Machado que, agendada para 7 de dezembro, encerra o programa de tributo a uma das personalidades mais proeminentes da literatura local.